Rimas Perigosas: A armadilha digital do Rap cabo-verdiano | Dai Varela

27 de julho de 2024

Rimas Perigosas: A armadilha digital do Rap cabo-verdiano

Já bo repará num caminho perigoso que alguns cantores da cena do Hip Hop Kriolo estão a trilhar? Estou a falar de uma tendência preocupante nos videoclipes em Cabo Verde de promoção de armas, drogas e comportamentos delinquentes. E estão a ficar perigosamente populares nas redes sociais a glamorizar a violência, o uso de drogas e a objetificação sexual. Os videoclips são de um gajos com ares de mauzões com a sua força depositada numa pretensa arma e no grupo dos ‘mauzões’ e meninas a exibirem o corpo em partes ou partes do corpo. A imagética costuma ser uma realidade distorcida e uma procura de normalizar comportamentos prejudiciais como se fosse a meta a ser atingida.


Dai Varela


Contudo, é preciso entender que muito desse pessoal está, consciente ou inconscientemente, seguindo uma agenda imposta por interesses comerciais e industriais. Sim, estão a cantar em crioulo e atrair visualizações, mas são apenas o reflexo dessa indústria musical global (com maior influência de Brasil – somos consumidores de segunda mão - e EUA) que explora temas controversos para atrair atenção e gerar lucro. Marionetas dessa agenda, o pessoal segue promovendo esses conteúdos que, embora populares, têm consequências negativas para a sociedade. Não estou a defender que se passe um álcool-gel para limpar as músicas ou retirar a realidade (mesmo que imitando outras realidades), mas é preciso ter a consciência das possíveis consequências de glorificar comportamentos destrutivos.

E nem se pode falar de ser uma mera questão de estilo ou autenticidade artística. Promover armas e drogas é uma estratégia de marketing calculada para capturar a atenção e alimentar a curiosidade dos jovens. Sim, o pessoal tem o direito de expressar as suas realidades e experiências, mesmo que estas sejam controversas. Contudo, se o que se faz é banalizar a violência e a criminalidade e glorificar armas e drogas, então claramente o objetivo é ter uma influência negativa sobre o comportamento dos jovens. Pelo que retratam, quanto mais jovens armados e usando substâncias tivermos, melhor para a sociedade cabo-verdiana? Repensa se teu LIKE está a validar isso como modelo de sucesso e realização.

Sim é bom beat, mas até que ponto estás a contribuir para a aceitação social de comportamentos criminosos e abusivos ao validar com o teu LIKE? E o pior é que com o teu LIKE estás a enviar uma mensagem para os outros cantores e produtores: sigam este caminho porque eu gostei! E só para piorar, temos o Estado a usar o dinheiro público para pagar muitos desses gajos em festivais dos municípios, fazendo dos Vereadores de Cultura uma das maiores influência negativa da juventude em Cabo Verde.

Fica a dica.

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